XII



Algo parecia estranho a Jamenoi naquela noite. Tinha uma daquelas sensações sem explicação que comummente se designam de intuição. No jardim apenas as luzes de iluminação pública denunciariam uma possível presença. Viver sozinho no monte tem destas desvantagens, principalmente para quem é paranóico. "É terapêutico", explicou ele a todos quando tomou a decisão de comprar a casa. Até já se tinha habituado aos sons estranhos que quebram o silêncio e às ilusões provocadas pela penumbra, mas o fantasma de outra alma nunca lhe tinha parecido tão palpável. Saiu porta fora com o intuito de vencer o medo e provar mais uma vez que tudo não passava de uma impressão. Contornou a casa, sondou e por fim respirou de alívio. Aí sentiu um arfar em crescendo atrás dele. Uma mão pousou-lhe no ombro ao que Jamenoi desatou a correr em direcção à porta, com o coração na boca. Tropeça no ladrilho, abre a cabeça na maçaneta, cai redondo no chão e sangra abundantemente.

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