XIV

Viver em constante turbulência era habitual para Horeme. Por isso não estranhava que os seus sentidos o bombardeassem com alertas de perigo e sinais mudando rápida e vertiginosamente, incitando uma necessidade persistente de movimentos bruscos, rápidos e reflexivos. Devido a esta curiosa vivência desenvolveu uma desconfiança sistemática e um sistema de defesas complexo. Mesmo nas situações em que se poderia sentir seguro não baixava a sua guarda, jogando tudo para o campo das falsa aparências. Certo dia caiu inconsciente devido ao stress e à extenuante exposição a demasiados factores. Claro que isto só aconteceu devido à anormal presença humana na biologia de Horeme. Quando recobrou os sentidos apenas pôde sentir as garras de uma águia a comprimir-lhe as entranhas. O último pensamento do roedor já não foi dominado pelo medo. Era um misto de libertação e de abandono.
0 Comments:
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home